quarta-feira, março 14, 2007

Ela já estava cansada daqueles eufemismos. Sentia que as máscaras demoravam a cair. Então, caminhou com sutileza até o canto do salão. Pegou um martine com aquela simpática cereja boiando.
(...)
Quando sobe ao palco, sempre olha para os rostos. Eles dizem tudo que você queria ver. Não ouvir. E ela canta, como quem boceja algumas frases soltas. Esse era o seu show particular. Para poucos. Aquele momento era sempre único. A satisfação era imensa.
(...)
No fim da noite, a moça que canta acende um cigarro e dialoga com os poucos que restam. Daí, chega outro e o coração da moça se enche. De amor? Não, de vida mesmo. Porque a moça não vive de amor, ela vive da possibilidade dele acontecer. Porque tudo que é concreto, é meio sem graça. Com isso, ela parte sem pensar no amanhã, no próximo show. Porque querendo ou não a vida por hoje vai se resumir a um colchão no canto da sala.

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