terça-feira, junho 24, 2008

Era o primeiro dia de primavera daquele ano.
Lá estava ela, com seus vestidos de chita. Sempre gastara suas economias comprando roupas de brechó, porque tinham lá suas histórias. Por isso, os bróches. Quando pensava nos donos, surgiam altos filmes imaginários. A última aquisição fora uma caixinha de música. Sempre teve medo da solitária bailarina dançando ao som de valsa. Mas ela adorava afirmar sua excentricidade. Também gostava da sensação do medo que torna a gente meio apático, quase-coisa. Num é que um dia, quando ela desligou a televisão e firmou seus olhos para cair no sono profundo, a caixinha despertou sozinha. Ela, apática, permaneceu imóvel e ouviu toda a lamúria da bailarina. E depois dormiu. De manhã, pensou ser um sonho. Achou que a bailarina poderia estar cansada de ser uma escrava da vontade dos outros. Riu de seus pensamentos.
E também decidiu não dançar conforme a música.

sexta-feira, junho 20, 2008

Meus cristais não são bentos
Meu incenso não é doce
Minhas macumbas não pegam
A pomba daqui não gira
Nem o pai é santo

Mas, meu terreiro vai bem, obrigada.

quarta-feira, junho 11, 2008

Do lado de fora a vida ia depressa. De dentro do seu infinito as coisas iam devagar, quase parando. A espera já não era mais dolorida, agora ela tinha gosto de algodão doce. Sempre doce. Ela não queria pertencer a nada, somente ao momento em que estavam juntos. As conversas não tinham objetivo ou coerência. Não se buscava mais entender o outro, filosofar sobre o ato. Tudo isso estava agora fora de moda. Nada era grandioso, na verdade era minimalista. Como os pequenos prazeres que um dia viu num filme e gostou.