segunda-feira, setembro 22, 2008

Ela sabia que de certa forma não escolhera a vida que andava vivendo. Caiu nela de cabeça e começou a nadar sem direção. Entendia que chegara a fase tão temida: dava graças a deus pelo vale-transporte, pelo sapato de salto novo. Tinha seus medos: temia não ver mais a graça dos atos rotineiros. Temia que o checar incesante da sua caixa de e-mails fosse eterno.

Era uma menina de sonhos feitos de cartas. Gostava pegar as coisas, era menos digital que os outros. Era menos muitas outras coisas. Estava mesmo era temerosa de querer ser como os outros. Igual ela nunca seria, então viveria a angústia do quase-ser. E nessa busca mudaria a sua essência e o pior aconteceria.

Então, decidida, ao chegar em casa preparou um café (foda-se se já era quase onze horas e ela não durmiria sob efeito de tanta cafeína). Com a xícara na mão e todo o sentimento do mundo no peito, colocou seu vinil favorito dos Beatles e se pôs a cantar.
Amanhã, seria terça-feira. Para ela era apenas mais um domingo ensolarado.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Seu maior medo era não ver mais as nuances.
Gostava mesmo era de enxergar por entre as sílabas, entre as letras de cada "Eu te amo". Para ela, as coisas nem precisavam mais ter nome. Apenas cores. Aquilo que não salta aos olhos de todos. O que é tudo, não é nada. Os detalhes: adorava o brochê, a presilha de flor no cabelo. As pequenas coisas que deixam o exercício diário da vida com cara de filme.