segunda-feira, novembro 02, 2009

“A vida é real, baby”. Era sempre assim, todo final de conversa. Quando os dois mundos já não se encontravam, quando tudo não parecia mais ter sentido algum, ela o lembrava. “Toda viagem era como a vida poderia ser, mas não é”. Para ela, a vida era um eterno acordar, um eterno desfazer de sonhos. Para ele: cada segundo era uma possibilidade perene de fuga, de transmutação. Os caminhos, esses por vezes se cruzavam. Arte, cinema, música, beijos. De resto iam se esbarrando pelas esquinas da cidade. Encoxando-se, como se não quisessem nada, nem se pretendesse chegar a lugar algum.

terça-feira, agosto 18, 2009

Ela já não corrigia mais seus erros de português. O tempo lhe mostrará que algumas pedras são quase impossíveis de se lapidar. Hoje, gostava novamente de estar ali, naquela quase casa. Nos dias chuvosos pensava no furor da cidade grande e de longe lia notícias sobre o trânsito, que continuava caótico. Seu interior estava decifrado: ela tinha suas certezas e angústias todas delimitadas. Quando começava a se perder em pensamentos negativos, apegava-se ao que de bom tinha cativado. Sabia que eternamente teria de afagar os tigres que uivavam dentro do seu ser. Alguns ela domava, outros somente conseguia aprisionar em grandes jaulas. Era preciso tempo para digerí-los.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

No fundo era mesmo uma velha de alma lavada, lavrada pelas dores dos dias. Gostava de ouvir Chico, Nara, Dolores. Saudosista como poucos na casa dos vinte, observava o balançar da vida, o ritmo em camera lenta da cidade em caos. Na sua mais intensa indigência, imaginava o seu futuro, sem bem viver o presente. E assim entendia o sentido da feroz roda viva, aquela que leva o destino para lá.